terça-feira, 11 de setembro de 2007

Um Diálogo


- Não compreendo. Explica-me porquê.

- Porque me alicia a falta de simetria na tua face. A claridade a emergir do olhar e a mover-se por todas as paredes. A harmonia que não existe quando discursas, descende, depois, nas certezas das mãos ao trespassarem o som, a rasgarem os céus, a gritarem bem alto para que a ninguém se evada a percepção daquilo que trazes. Assombroso. Afirmares-te grande. Seres mais do que isso – o enorme sorriso que trazes, com o qual rodeias o Mundo.

Quando amanheceu, não quis acreditar que quisesses que eu te explicasse tudo mais uma vez.

domingo, 9 de setembro de 2007


Ter-te em todos os lugares. Entre todos os silêncios. Ser tão pouco, perto da tua imensidão. Ouvir os teus dedos e ter a noite como testemunha.

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

A Morte de W. A. Mozart


Oh boisterous heart,
Yet silenced by the shading;
Fingers in a sad timbre,
As a spring rose, fading.
Within the night and the sweat,
The whispers were read,
All assembled in a claim.
And a last melody again,
Recurring in a low tenor,
Sounding B or F major,
All through the stillness surrounding.
Astonishing, I would say.
[Swiftly, the echo of laughter,
Perceived before, that day.]
So, then, the eyes wide opened,
Gazing the quiet top,
Allowed a tender gasp –
Down, above and then stopped;
The hands lying on the sheet
As if a piano
[A distant cry of a soprano!]
Giving a last silenced tone,
Without a cry or a weeping moan,
Slowly expired, as the softness
Of a sonata,
The suddenness of a cantata,
Again listened, only tuned much stronger!
Oh, now his essence left, he lives no longer…

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Acho que sempre gostei de olhos grandes.


Acho que sempre gostei de olhos grandes. Os olhos como duas gotas enormes, sorridentes, brilhantes. Quando os teus emergiram, solenes, sobre a pele argêntea, foi como uma prosa que se traça devagar. Depois de um sorriso tão grande como os olhos e de uma risada tão rara como tu, nunca mais existiu silêncio. Deve ter sido por isso. Deve ter sido, não vejo que mais. Tinhas estampada no rosto mais do que simples alacridade. Era como se tudo à tua volta existisse com mais resplandecência desde que estivesses presente, ali, a observar tudo como a imensidão dos olhos claros, a sorrirem com a tua boca e a completarem tudo o mais. Os cabelos muito dourados; rebeldes, simples e desalinhados, quase tão simples como uma melodia sóbria, equilibrada. Era só ficar ali à espera que fizesses algo mais do que sorrir muito. Apesar de nada mais ter acontecido foi deslumbrante ver-te sentar após a dança, pegar no copo vidrado, cheio com o vinho da casa, a sorrir ainda mais, a mover as mãos enquanto falavas. Eu fiquei distante, a murmurar e a sorrir quando tu sorrias e a dizer-te baixinho todas estas coisas. Acho que sempre gostei de olhos grandes. Os olhos como duas gotas enormes, longínquos, para sempre.