sábado, 6 de outubro de 2007

De Corpo e Alma



Aus der Stille - aus dem Nichts
Eingetaucht in Dich
Erhalte mich in dieser Nacht ...”

Lacrimosa – Eine nacht in Ewigkeit

Porque me acordas todas as noites? Não que eu não queira ouvir-te abrir a porta e deitares-te ao meu lado, devagar. A cama estremece, suavemente; o teu cheiro antigo nos meus cabelos. Sabes-me bem e assustas-me – não chores. Eu deixo-te ficar aqui, deixo-te espalhar o teu cheiro antigo pelo quarto, até ser de manhã. Começo a amar-te. A sentir a tua falta sempre que abalo e não te trago comigo. Quero saber o teu nome, não que te chame; tu sabes sempre onde estou, mas para o suspirar no autocarro, enquanto não faço girar a chave na fechadura e entro em casa, o soalho sob os pés, o murmúrio no corredor despido.
Acho que ontem me abraçaste, espectro, meu amor. Aquilo que senti serem os teus lábios era o frio suspenso em redor – uma dormência inquieta [como tu]. Será possível termos consumado algo mais do que lamentos? A escuridão. Encontrar a paz na canícula que é o espaço que habitamos por momentos, enquanto nos tocamos de corpo e alma, de corpo para alma, até adormecer nos contornos refulgentes de um corpo que mal existe.

Volto mais cedo, amanhã. Quero aspirar mais de ti.

2 comentários:

J. Vilas Maia disse...

A boca,

onde o fogo
de um verão
muito antigo

cintila,

a boca espera

(que pode uma boca
esperar
senão outra boca?)

espera o ardor
do vento
para ser ave,

e cantar.

-/-

Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
como se pode morrer?

Eugénio de Andrade

O amor só pode ser vida, não é?

bjos

Pseudónima disse...

Todos os teus textos têm uma essência própria, uma vida própria e entram-mos de rajada, oferendo sorrisos de "corpo e alma, do corpo para a alma". Nunca deixes de escrever, beijinhos.